Boanerges: Por que Tiago e João foram chamados de “Filhos do Trovão”?

Uma curiosidade bíblica com significado profundo

Entre os muitos apelidos marcantes usados por Jesus para designar seus apóstolos, um dos mais enigmáticos é o de “Boanerges”, atribuído aos irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu. O termo é citado apenas uma vez na Sagrada Escritura, mas carrega um simbolismo que ecoa a personalidade e a missão desses dois discípulos.

“A Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tiago, deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão.”
Marcos 3,17 – Bíblia Sagrada Ave-Maria

O que significa “Boanerges”?

A palavra “Boanerges” é uma transliteração grega de um termo aramaico que significa literalmente “filhos do trovão”. Esta designação dada por Jesus indica algo sobre o ímpeto, o zelo e a intensidade de caráter desses dois irmãos.

A tradição católica, ao interpretar esse título, não o vê como uma repreensão, mas como um reconhecimento do fervor ardente e da disposição ousada desses apóstolos em defender a fé. Segundo estudiosos e santos da Igreja, esse “trovão” revela um temperamento forte e apaixonado, que, uma vez purificado pela graça, tornou-se instrumento poderoso na proclamação do Evangelho.

Uma natureza impetuosa, mas transformada

A Sagrada Escritura mostra em alguns episódios o espírito impulsivo dos filhos de Zebedeu:

  • Desejo de castigar com fogo:
    Quando os samaritanos rejeitam Jesus, Tiago e João pedem: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?”
    Lucas 9,54 Jesus, porém, os repreende, mostrando que o Reino não se impõe pela violência, mas pela caridade.
  • Ambição por grandeza:
    Também foram eles (ou sua mãe, em outra narrativa paralela) que pediram a Jesus os lugares de honra em seu Reino: “Concede-nos que nos sentemos, um à tua direita e outro à tua esquerda, na tua glória.”
    Marcos 10,37

Mais tarde, no entanto, vemos uma transformação espiritual profunda. João torna-se o “discípulo amado”, presente aos pés da cruz (cf. João 19,26) e autor de cartas que exalam amor e ternura. Tiago será o primeiro apóstolo mártir (cf. Atos 12,2), oferecendo a própria vida por Cristo.

Interpretação patrística e espiritual

Santo Tomás de Aquino comenta que Jesus quis dar esse apelido não por ironia, mas por profecia, pois esses dois seriam pregadores poderosos, como trovões que ecoam longe e abalam os corações adormecidos. A tradição católica os vê como modelos de zelo, que precisaram aprender a canalizar sua paixão através da humildade e da graça divina.

O Papa Bento XVI, em sua catequese sobre os apóstolos (Audiência de 28 de junho de 2006), também comenta esse título e nos recorda que o ardor deve ser domado pelo amor cristão, para que se torne frutífero e fecundo.

Aplicação espiritual para nós

O exemplo de Tiago e João nos ensina que Deus aproveita até nossos temperamentos mais difíceis — quando entregues a Ele — para a santificação pessoal e o serviço ao Reino. O “trovão” dos filhos de Zebedeu tornou-se, com o tempo, eco do próprio amor divino.

Assim como esses apóstolos, também somos chamados a converter nossas forças naturais em virtudes sobrenaturais, colocando nossos dons a serviço do Evangelho.

Fontes:

Bíblia Sagrada Ave-Maria – Marcos 3,17; Lucas 9,54; Marcos 10,37; João 19,26; Atos 12,2

Catequese do Papa Bento XVI – Audiência Geral de 28/06/2006 (Vatican.va)

Santo Tomás de Aquino, Catena Aurea, comentário sobre o Evangelho de Marcos

Dicionário Bíblico Católico “Scott Hahn” – Ed. Ecclesiae

“A Vida dos Apóstolos”, Pe. Jean Croiset, S.J. – com Imprimatur

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